...somos um casal normal!
Em carne e osso, fibra ótica, webcam e internet banda larga.
Isso mesmo, com direito a briga e tudo, viu? Quer dizer não é nenhuma grande briga, pelo menos até agora - e espero que nunca.
Eu já sabia que em algum momento as diferenças iam começar a se chocar. Porque afinal, só o fato de sermos 2 seres humanos diferentes, já é mais do que suficiente para que as pessoas tenham lá suas divergências. Então é fácil de imaginar como duas pessoas de sexos diferentes, línguas diferentes, não só países como continentes diferentes, culturas diferentes, religiões diferentes (e eu poderia continuar a acrescentar itens nesta lista!), podem bater de frente em certos aspectos.
Sempre foi explícito que não concordávamos em muitas coisas. E que bom,ninguém pode concordar em absolutamente tudo. Acho que assim um complementa o outro, e isso gera crescimento pra cada um enquanto pessoa. Mas sempre dizíamos o que pensávamos, e nunca tivemos a preocupação de tentar convencer o outro a olhar pelo nosso ponto de vista. Sempre nos respeitamos muito e desde o começo, nós sabíamos que se quizéssemos ter um relacionamento tranquilo, precisaríamos aprender a aceitar e não julgar a opinião do outro. Não necessariamente concordar. Cada um tem direito de manter uma idéia. Mas ouvir, e muitas das vezes, mesmo sem entender, não se sentir indignado ou irritado por ver que temos visões distintas. Me sentia supresa, e as vezes sem acreditar que isso fosse possível entre as pessoas.
Mas eeeeeei, a hora da verdade chegou. Temos, algumas vezes, discussões (não brigas) de 30 minutos sobre nossas opiniões. Já estão começando aparecer nossos momentos de ciúmes. Eu já imaginava que talvez ele pudesse sentir um pouco mais de ciúmes do que eu, pela cultura dele e tal. Mas nos recados de aniversário que ele recebeu, uma garota chamou ele de "chocolate" e meu sangue ferveu hahaha. Nada sério. Eu só citei, porque que esta adorável criatura chamou ele de "chocolate"? Em 2 minutos o assunto tava resolvido e agente dando risada. Eu até fiz brincadeira dizendo que no dia seguinte ela estaria morta. Ele riu, mas eu não sei porque, eu poderia estara falando sério, não poderia? Mais tarde, na mesma conversa, ficamos sei lá quanto tempo falando sobre virgindade e casamento.
Porque lá acontece o seguinte: se a menina não é mais virgem, e o marido descobre na noite de núpcias, ele pode devolvê-la para a família. Quem lembrou da novela "O Clone"? Eu lembrei da Jade e do Said, hahah. No caso dela não ser mais virgem, o ideal é que ela avise ao noivo, pra que ele tome conhecimento, e que assim, possa decidir abertamente se consegue lidar com isso ou não. Mas se ela mentir, e tentar enganá-lo, o cara pode devolver mesmo. Até existem casos de que o marido ama muito a mulher a ponto de conseguir perdoar e seguir com a sua esposa, sem que ninguém da família precise saber de nada.
Seja lá ou cá, qualquer tipo de mentira dói, né. Isso é óbvio pra todo mundo. Mas o que pra mim, soou muito estranho, totalmente diferente da minha realidade, foi o fato da noiva ser devolvida. Parece que estão lidando com um objeto, e não uma pessoa, sabe? Mas eu concordo que, pela cultura que temos onde tudo e todos deturpam e banalizam o sexo, a questão da virgindade já não tem importância para a maioria esmagadora da sociedade. Então para os turcos - e tantos outros povos e países - isso é sim uma questão de extrema importância.
Mas eu, como ser humano ultra liberalista, que tenho sido ultimamente, apesar de não gostar e não concordar em nada com a mentira da noiva para o marido, eu não a julgo. Porque pensa comigo... imagina só se você cai na besteira de se entregar pra um cara que não tem valor algum e depois se arrepente? Você vai fazer o que consigo mesma? Se matar? Fazer algum tipo de implante de hímen, como fez a Angela Bismarchi (hahaha, sem comentários pra ela, um minuto de silêncio aqui)? Não vai né! Então, você se depara numa sociedade que não aceitaria em hipótese alguma o que aconteceu. Você conhece alguém que gosta de verdade. Os anos passam, você namora, e se o sentimento for verdadeiro, vem a vontade de se casar. Daí você imagina que aquela pessoa que você ama, pode simplesmente virar as costas pra você, por algo que você fez no passado. E certamente sua família, super tradicional, iria acabar sabendo, e eles simplesmente iriam querer matar você. Essa situação parece fácil? Pra quem tá acostumado com a cultura Ocidental, pode até parecer ridículo. Mas quem conhece um poquinho do peso dessas tradições, vai compreender melhor.
Eu, por amor a pessoa que está ao meu lado, e também por não ser uma pessoa estúpida e ter conhecimento de que é claro que isso iria ser notado, falaria a verdade. Mas tem gente que teria medo e tal ponto, que talvez mentiria. Nunca passei por isso, e vou fazer o que? Condenar a pessoa como a pior do mundo? Não posso, já fiz coisa muito pior na vida. Já errei muito, já fiz pessoas especiais na minha vida sofrerem por minhas atitudes. Aprendi com meus erros? Claro que sim, e com outros eu ainda estou aprendendo. Mas naquele momento da minha vida, foi tudo o que eu pude fazer. Porque se eu pudesse fazer diferente, assim o teria feito. E quando eu falo em poder fazer, digo que foi a consciência e o entendimento que eu alcancei naquela altura da minha vida, dá pra entender?
Por esses e outros motivos, não consigo entender tal pensamento, e sou muitíssimo a favor do perdão.
Apesar de saber que se fosse comigo, aqui no Brasil mesmo, uma mentira não ia ser nada fácil de aceitar.
Voltando ao meu ponto.
Ficamos um século falando só sobre isso. E não conseguiamos entender o outro de jeito nenhum. E era um tal de tentar mudar opinião daqui, tentar convencer de lá, que não foi fácil. Até que, graças a Deus, sempre dá um clique na gente que nos faz lembrar das nossas diferenças colossais, e ao mesmo tempo do sentimento que temos em comum. Então assim, conseguimos abrir, a cada dia, um pouquinho mais a nossa mente e entender que as nossas verdades, não são necessariamente, verdade para outras pessoas. E que não basta tentar encerrar o assunto com raiva. Se assim se encerrou, é porque não foi resolvido. Mas é tentar acabar o assunto, disposto a respeitar o outro com um sorriso no rosto. Sem peso, sem briga. Simplesmente com a consciência de que o que ele pensa tem o seu valor. Mesmo que em primeiro momento você não acredite no que está ouvindo.
E nesse momento eu vejo que somos extamente como um casal normal. Não um casal igual a tantos outros milhões, sem nada de especial. Mas digo normal do sentido de apesar de virtual, o que temos é real. Porque é coisa de gente que trabalha, tem problema, fica doente... essas coisinhas do dia-a-dia, não é? Ou alguém já assistiu a um conto de fadas, com discussões? Eu quero um conto de fadas sim, mas para viver algo lindo e especial. E não pra ser algo que fique só na minha imaginação. Quero que se torne palpavél e real.
E bem... acho que conseguimos. Somos um casal real :)