terça-feira, 13 de setembro de 2011

De mudança

Não sei nem como começar esse post direito.

Há 1 ano e 8 meses atrás conheci um rapaz pela internet. Risadas de brincadeiras sem fim, ansiedade diária e coração acelerado, geraram 2 corações apaixonados. A convivência gerou a amizade. A amizade nos fez perceber, mesmo através das câmeras, até as mais escondidas tristezas um do outro. Nasceu o amor. Com o amor, nasceu a vontade de estar juntos de verdade. Dessa vontade, tivemos muita força pra lutar contra o mundo, se assim fosse possível. O que era impossível se tornou possível. Vimos que tínhamos um sonho em comum, um sentimento em comum, e que juntos éramos mais fortes.

Voltei chorando, sem saber quando iria vê-lo novamente. Achava até que Deus já tinha sido bom demais comigo por sequer ter tido a chance de estar com ele, ao menos uma vez. Os meses se passaram e a saudade foi muita. Ele veio para a minha terra para estar comigo outra vez. Num piscar de olhos os dias passaram, e lá estava ele do outro lado do Oceano outra vez.

Já tínhamos no coração a vontade de acabar com a distância, de uma vez por todas. De sair de mãos dadas pelas ruas e poder ir ao cinema juntos. De chorar um no ombro outro de verdade, e não somente quando apoiávamos a cabeça no monitor, fechando os olhos, imaginando que onde repousávamos a cabeça, era numa pessoa e não em máquina. De ter briguinhas de namorados e no dia seguinte bater na porta pra poder pedir desculpas, ao invés de mandar e-mails. De poder estar juntos nas conquistas, nas tristezas, nas festas de família, depois de um dia chato de trabalho, ou num domingo de manhã sem nada pra fazer...

Por todos esses sonhos, começamos a fazer tudo o que podíamos (o que não podemos, pedimos a Deus). Ele começou a trabalhar com mais empenho, pra quem sabe assim, ser promovido mais rápido ou ganhar um aumento. Fazia trabalhos extras nos finais de semana, ou depois do horário pelo nosso futuro. Começou a pesquisar para mim sobre vistos, sobre bolsas de estudos e universidades. Eu comecei a tentar a desfazer as complicações da minha universidade, a economizar o dinheiro da passagem do ônibus, ligar pra consulados, falar com amigas que tenham passado pelo mesmo que eu.

E ontem, todos esses planos que aqui, eu já dizia que seriam completos, tomaram forma.
Já fazendo planos do que vou receber da minha última pensão, somados ao décimo terceiro que vem junto, mais as possibilidades que a minha vó tem. Ontem, mais uma vez, ela acreditou comigo nesse sonho, se sacrificou muito além do que eu sei que ela pode, pra me ajudar a ter um futuro melhor e feliz.

A ficha não caiu completamente, mas está aí a passagem pra maior mudança que já fiz em toda a minha vida.
Quando recebi a confirmação do vôo pela empresa tanto no e-mail, como no meu celular eu não sabia se ria, se congelava, se saia correndo, se chorava. Não sabia mesmo. O primeiro impacto é de muita felicidade. Fiquei o dia inteiro num humor assim... radiante.
O Emre parece que sente o que acontece comigo e vice-versa. Eu estava lendo as informações de confirmação do bilhete eletrônico no e-mail, e ele aparece no Skype me ligando. Peço pra que ele abra o e-mail e veja a última mensagem. Ele desconfiado:
- O que é? Você está me deixando nervoso. (Com um sorrisão no rosto)
- Vai lá, abre.
- Eu tô vendo aqui "Submarino Viagens", é isso mesmo? Eu estou vendo certo? (ainda com o sorrisão)
- (Eu já sem conseguir fingir seriedade, rindo que nem uma boba). Não sei não, abre aí!
- Amooooooooooooooooor! Não acredito, você comprou a passagem, você vai vir pra mim, 'prensesim'. (= minha princesa)
- Hahahaha, ééé, eu estou indo sim!

Só que é um sentimento muito louco, sabe. Na hora que a saudade aperta do lado de cá, dá vontade de sair correndo e não olhar para trás. Mas eu coloco os pés no chão toda vez, e tento não ficar querendo pular as etapas. Até esse momento agora de espera, de nervosismo, de luta, de choro, de medo... é normal.
E até necessário. Isso tudo serve pra gente lembrar lá na frente, de onde viemos, pelo que passamos, o que conseguimos enfrentar e vencer, até mesmo para valorizar onde estaremos, o que conseguiremos. Acho que tudo quando é muito fácil, nós mesmos não conseguimos dar o valor merecido. E sem saber ser grato a quem nos ajudou e a nós mesmos, sem saber valorizar o sacrifício, nos tornamos mais propícios a desistir no futuro na primeira topada que a vida nos coloca.

Daí, a saudade e a dor de estar longe vai ser invertida. Eu sei que vai. Minha vó, meu avô, meu tio, minha casa, meu quarto que depois de tanto tempo ficou do meu jeitinho, minhas coisas, minha rua, meu bairro... as crianças nas escolas aqui perto fazendo barulho, o ventinho que entra pela janela do meu quarto. Nada disso vai fazer mais parte da minha vida cotidiana a partir de Fevereiro de 2012. Não é pra ser tão apegado ao material, mas não dá pra apagar minha história, minha família e a vida que eu vivi até hoje.
Sei que vou sentir muita falta de tudo isso. E sei que da próxima vez que eu voltar, nada vai estar mais do mesmo jeito. E nessa hora da vontade de chorar, dá muito medo, dá vontade de fazer o tempo correr bem devagar.

Ufff, só de digitar essas palavras, aperta meu coração e me faz ficar com os olhos cheios de lágrimas.
Mas acho que a vida é mesmo feita de mudanças. Erra aqui, concerta ali, melhora acolá, muda por ali...
Se eu pudesse mesmo escolher, acho que juntaria esses dois mundos, pra assim ser completa.
Sem ele, sem a família que quero construir ao lado dele, fica um buraco aqui dentro do coração, e na cabeça sempre aquele pensamento de "E se?". Quis tanto viver o que eu vivo com ele, e agora que ele apareceu, não posso abandonar. Ele é a resposta de tantas orações, e agora que Deus me abençoou, eu vou jogar minha benção fora? Não posso. Mas sei também que minha história tem seu valor, e não é qualquer coisa pra eu simplesmente deletar, como se nada fosse.

Faltam agora menos de 5 meses. Até lá, vou de passo em passo, vivendo o dia de hoje como Deus me permitir. Agradeço por todas as coisas, porque até mesmo as dificuldades me fizeram aprender muitas coisas. Boa sorte pra mim, boa sorte para você que lê. O medo é grande, mas o sonho é maior ainda.

Beijocas a todos!

ps: eu escrevi isso tudo, mas eu fico achando que a qualquer momento vou abrir o olho e ver que estava dormindo, porque ainda não consigo acreditar muito bem que vou me mudar para a Turquia e começar tudo do zero. Não sei como falar as pessoas, ao resto da minha família, não sei... vou devagar, porque sei que certos passos da vida, é melhor que sejam apenas ditos, quando tudo estiver concreto. Mas precisava vir aqui digitar isso. Pra daqui há anos, quando tiver meus filhos, eles poderem ler, todas as angústias, todas as dúvidas, todos os medos que a mãe deles viveu. E pra eu também sempre me lembrar do quanto quis isso tudo, do quanto todo mundo me ajudou, do quanto Deus fez por mim, e sempre sempre e sempre ser grata.
Nem em um milhão de anos eu me imaginaria tomando esse passo, mas tudo aconteceu, com suas dificuldades, parecendo até, que tinha mesmo que acontecer... Então vamos lá. Vamos fazer acontecer.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Minha família e meu namorado virtual - Parte 2

Continuando o último post...

Eu disse um pouco sobre como a minha família ficou sabendo sobre nós dois. Até esse ponto, estava tudo bem para mim e para nós aqui em casa. Eles sempre me viram falando com amigos por internet, conhecendo gente de várias partes do mundo e falando por horas. Até na minha época de "Egypt Fever", eles levaram na boa (porque eu só ouvia música árabe o dia inteiro, só lia sobre o Egito, pesquisava sobre o Egito, só falava com minha amiga do Egito...). Então acho que eles já não poderiam se assustar tanto assim.

E essas pequenas coisas que citei no outro post, de estarmos sempre nos falando, de procurarmos integrar nossas famílias nesse dia-a-dia de namoro virtual, de mandar presentes para que nos fizéssemos mais presentes na vida um do outro, foi fundamental. Primeiro, porque eu precisava conhecê-lo. Eu precisava adquirir confiança nele, o que foi muito fácil para mim, porque ele sempre foi muito aberto, muito sincero, muito presente. Segundo, porque eu precisava ver se essa história ia mesmo dar em alguma coisa. Eu precisava discernir se aquelas promessas que trocávamos iam mesmo se concretizar, se poderíamos levar o amor que estava nascendo até o fim ou se seria algo passageiro. Eram mil coisas que se passavam pela minha cabeça, e que precisavam ser comprovadas.

Claro que ainda assim, só quem conhece o coração de alguém é Deus. Pessoas mentem, corações mudam e se enganam, porque não? Acontece. Então, nas pequenas coisas, precisamos ver, com o máximo de clareza que conseguirmos, o que é que está acontecendo.

Mas tá, até aí, tá tudo lindo.

Quando começamos a manifestar a vontade de tornar a coisa real, é CLARO, que a preocupação começou a surgir na cabeça de todo mundo por aqui. Sempre falava com meus avós, que nós dois queríamos nos ver, que eu queria conhecer Istambul. E acho isso muito importante. Jogo limpo, sempre é bom, sabe?
Incluir a família, ouvir o que eles tem a dizer sobre isso. São muitos casos diferentes. Mas em geral, mesmo que com problemas e até preconceito, sua família é quem mais ama você no mundo. Quem fez tudo por você, desde que você nasceu. E até mesmo, quando a família implica, reclama, não entende e dificulta... não é porque ficam felizes em ter fazer sofrer. É porque do jeito particular que cada um tem, eles se preocupam muito, e não querem que você se decepcione, ou no pior das hipóteses, que você não seja vítima de um golpe ou coisa assim. Existem famílias complicadas, pessoas sem famílias, ou famílias que mais parecem inimizadas. Cada caso é um caso, mas na medida do possível, é bom procurar ir com calma.

Por isso que sempre exercito a minha paciência com qualquer pessoa que seja, e especialmente com a minha família, quando o assunto é Turquia, e todo outro tipo de assunto que eles possam colocar no meio disso. Já cansei de ouvir perguntas e comentários sobre: guerra, o Islam, conversão, ataques, cultura diferente, mulheres usando véu, e tudo aquilo, que as pessoas acabam reproduzindo por serem a única coisa que ouviram a respeito.

Eu estava para ir visitar minha mãe, que hoje mora em Portugal, mas num piscar de olhos tudo mudou, e acabei por mudar tudo e ir parar lá na Turquia.

Eram mil empecilhos que colocavam. Minha vó fica assistindo aqueles programas de desgraça, que passa à tarde. Daí ela sempre vinha me contar de um caso de uma menina que foi se encontrar pessoalmente com um cara que ela conhecia pela internet e foi roubada. Outro caso da mulher que foi se encontrar também com um cara que conheceu online, e que matou ela. Essas coisas terríveis, e que há mesmo que se preocupar. Certos casos são assim, muitos outros não, oras.

E outras preocupações vieram. Onde eu ia ficar, quem poderia me ajudar em caso de perigo, onde ele morava. Mas pouco a pouco essas preocupações foram exterminadas. Ele me mandou uma carta convite, dizendo seu nome, documento de identificação, endereço do trabalho, endereço de casa... tudo para que ocorresse tudo certo tanto no aeroporto, quanto para minha família. Em todo tempo ele mesmo viu isso como zelo, e fez questão de fazer tudo para que eles pudessem confiar nele, assim como eu já confiava.

Agora, fora da minha família... que está aqui todo dia, que pode ver todas essas coisas positivas ao favor dele, existe ainda a outra parte da minha família. Alguns já o conhecem também (de ver e de falar com ele), outros só ouviram falar, alguns não fazem a mínima ideia de que ele existe. Como meu pai, por exemplo. Já deve ter ouvido falar alguma coisa, porque pela internet as notícias se espalham mais facilmente. Mas nunca tive essa conversa com ele, e confesso que tenho medo. Ele não é muito próximo de mim, assim no dia-a-dia, e não tem mesmo como saber se não é só uma loucura ou uma irresponsabilidade minha. Ou se pode ser algo bom pra mim.

O dia está se aproximando, faltam menos de 5 meses, para que o dia que eu planejo viajar, chegue.
Não faço a menor ideia de como falar, e de como as outras pessoas da minha vão reagir. Talvez quando eu me for, perguntam:
- Mas e cadê a Jessica?
- Ah, a Jessica? Sabe não? Não tem nada na cabeça... foi lá viajar pras arábias, pra Turquia, sei lá. Daqui a pouco quebra a cara, e vamos ver o que acontece.


É duro demais pensar nisso, eu sei. Mas lá vão algumas dicas para 'vencer' a família:
- Seja paciente. Eles fazem isso por amor, acredite.

- Se mostre certa do que quer. Ninguém consegue acreditar em quem muda de opinião toda hora, ou quem nunca leva NADA a sério, não é mesmo?

- Não desista. Você conhece alguma história de amor, sem a complicação da trema, ou sem vilão? Eu não.

- Troque presentes ou cartas com ele. Dessa forma, você os faz conhecer do endereço do seu amor.

- Quando estiverem se falando por voz ou webcam, chame sua família sempre que puder pra dar um tchauzinho.

- Mostre os blogs que você lê, de histórias de pessoas que vivem a mesma história com você. Assim eles tem conhecimento de que você não é a única louca. (Essa, minha florzinha Kátia, que disse. Ótima dica)

- Leia com eles artigos sobre a Turquia. Leve reportagens, vídeos, livros, que falem sobre a economia, sobre a sociedade, sobre a qualidade de vida. Assim se ainda existe aquele pensamento 'e os terroristas?', por exemplo, você vai ter provas. Já viram esse Globo Repórter? Maravilhoooooso (só de ver, meus olhos enchem d'água de tanta saudade).

- Saiba contra-argumentar. Eles falam da violência de lá? Fale da violência que também tem aqui. Violência tem no mundo todo, infelizmente.

- Não brigue! Nem sempre é fácil, mas brigando só vai fazê-los ter mais antipatia pelo seu relacionamento.

- Não seja inconsequente ou imatura. Você tem o direito de largar tudo. Mas se isso vai prejudicar seriamente alguém que você ama, alguém da sua família e você não está nem aí para isso, só pensa na própria felicidade, você está ASSINANDO seu atestado de loucura para sua família. Não se esqueça, se algo der errado, é a eles que você vai recorrer depois.
Só um pedacinho da minha família. E essa foto tá uó, mas é a melhor que tem, eu to horrenda, minha vó séria de vergonha, o Emre também com vergonha... rs. Mas ele virou o príncipe aqui de casa! :)
Espero que não, mas preciso me preparar até para isso. Sei que todas as garantias do mundo, ainda assim podem não ser garantia de nada. Essas mesmas garantias também podem se concretizar até o fim. As pessoas mudam, eu mudo, e isso não é pecado. Então, enquanto ser humano, faço os planos que eu posso fazer. E acredito que eles sejam mesmo concretos, bonitos, verdadeiros... Acredito no meu futuro. Quero trabalhar quando chegar lá, penso em fazer uma pós-graduação, um mestrado em relações internacionais. Mas não me culpo por sonhar em estar ao lado de alguém que eu ame tanto quando eu amo o Emre, e que também me ame tanto e me prove isso todos os dias.

Sou feita de sonhos, mas também tenho os pés no chão. E acho que é possível ser assim.

Tenho 23 anos, me formo em Dezembro, não sou casada, não tenho filhos, não tenho um emprego promissor aqui garantido. Acho que a minha hora de viver algo assim, é essa! Não que ao ter impedimentos como esse, você não possa realizar um sonho. Porque você pode e deve! Mas sem esses fatores, isso fica ainda mais fácil. Ainda não tenho nada. Se não tenho nada, não posso perder nada. E ainda que tivesse que perder, sei que não se pode ter tudo. A vida é feita de negociações. Ganhamos uma coisa, mas perdemos outra. É questão de escolha. O que você vai escolher? O que você pode abrir mão? O que você não pode abrir mão? Escolha, entenda os riscos e lute por isso. Mas também não queira fazer o papel de Deus, porque esse só Ele mesmo é quem pode fazer.

"Pros erros há perdão. Pros fracassos, chance.  
Pros amores impossíveis, tempo.  
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. 
Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, 
que o medo impeça de tentar. 
Desconfie do destino e acredite em você. 
Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, 
vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, 
quem quase vive já morreu."

Beijinhos