Há algum tempo atrás, eu li em algum blog, a autora escrever que se tivesse que aconselhar sobre relacionamentos com alguém de outro país - especialmente se este país for muito diferente do nosso - que ela não recomendaria. E essa semana conversando com o Emre, eu cheguei a essa mesma conclusão: eu também NÃO RECOMENDO.
Antes que me apedrejem, me ameacem de morte e tomem raiva de mim (rs, calma gente!), vou abrir meu coração e explicar o porquê.
Pra começo de conversa, namorar alguém da mesma cultura, do mesmo país, que possa entender a sua origem e quem você é, é infinitamente mais fácil do que amar alguém lá do outro lado do mundo. Daí que isso também não garante que um brasileiro, vá te amar e te entender - nem brasileiro, nem qualquer outra pessoa na verdade. Acaba que na vida, nada é mesmo 100% garantido, a não ser a certeza de que um dia todos morreremos.
Sabe o que eu recomendo? RECOMENDO QUE VOCÊ ESTEJA AO LADO DE QUEM VOCÊ AMA DE VERDADE, DE TODA A SUA ALMA, DE TODO O SEU CORAÇÃO.
Sabe o que eu NÃO recomendo? Que você se relacione com alguém de um cultura diferente, porque você seu sonho é poder dizer pros outros que seu namorado é estrangeiro, ou ter o sonho de morar fora do Brasil. OU então, simplesmente ter a ilusão de que tudo é fácil e incrível - porque não é.
E quando as duas coisas acontecem simultaneamente? Amar muito alguém (não disse paixão e encantamento, eu disse AMOR) e esse alguém ser de uma cultura tão diferente? Então minha amiga, se prepara porque lá vem muita coisa difícil pela frente. E não são aquelas dificuldades que qualquer casal passa não. São essas dificuldade naturais de qualquer relacionamento, somadas à outras, só que 10 vezes mais difíceis.
Se você acha que com esse post eu quero desencorajar a quem, assim como eu, ama um turco, e passa por aqui para ler o blog, favor pare e desafaça esse pensamento agora, porque não é MESMO o que eu quero aqui.
Mas sabe o que eu acho justo? Eu acho justo quando uma pessoa pode fazer uma escolha de olhos bem abertos, consciente e esclarecida do que ela quer. O lado bonito, esse você já sabe. Você já vive desde o primeiro momento que conheceu o seu amado. As conversas são mágicas, os momentos entre vocês são lindos, os sonhos de vocês são emocionantes. Eu sei disso tudo, porque já passei por isso e ainda tenho muitos momentos assim. Portanto, você não precisa de mim nem de ninguém pra te dizer o quão mágico isso tudo pode ser.
Às vezes, o que todo mundo precisa é de uma dose de realidade. Uma dose do lado feio também, um dose de conhecimento da dificuldade que pode vir, uma dose da tristeza dos momentos duros. Por que eles existem pra mim e pra você. Seja no Brasil, na Turquia ou no Japão. Seja com seu namorado, com sua família ou com seus amigos. Seja você homem ou mulher. Tenha 20 ou 50 anos. A dificuldade é para absolutamente todos, basta estar vivo.
Mas será que mesmo sabendo de tudo o que pode existir de ruim também, você teria vontade de seguir em frente?
Vamos há alguns exemplos.
Lembrando que CADA HISTÓRIA tem um rumo e um desfecho diferente. Vou dar alguns exemplos da MINHA VIDA, de algumas histórias de pessoas próximas a mim, ou até de algumas que li por aí, pra você ter uma noção e se fazer essas perguntas, só como um teste e auto-reflexão:
1) Olhe para sua casa. Tenha você crescido nela, ou seja você morador recente. Como você se sente de deixar o seu lar, o seu canto, do seu jeito, para trás?
2) Pense na sua família. Sua mãe, seu pai, seus irmãos, seus primos, tios mais distantes, parentes próximos... Tenha você um bom ou mal relacionamento com eles... Como se sente em saber pode ser que demore meses ou até mesmo anos para vê-los pessoalmente? Como se sente em não poder abraçar sua família nos seus momentos de crise? Pense em todas as brincadeiras e risadas, que vão somente acontecer quando os fusos horários baterem, e se essas pessoas conseguirem bater com o mesmo horário que o seu, na internet.
3) Pense na suas manias e hábitos mais difíceis de serem abandonados. Sua comida favorita, seu jeito de guardar suas coisas e arrumar a sua casa, o doce da padaria da esquina que você adora, aquele shampoo com o seu cheiro favorito, o guaraná que você toma nos almoços de Domingo. Como se sente em, de um dia para o outro, não fazer mais nada disso e não ter mais acesso e nenhuma dessas coisas, mas começar a ter toda uma vida nova, sem as mesmas pessoas, sabores, gostos e lugares?
4) Se imagine, tentando explicar uma tristeza sua, uma dor física que esteja sentindo, se comunicar nas coisas mais bobas, fazer piadas, dividir momentos... e na maioria das vezes, não conseguir se expressar, ou não conseguirem te entender? Seja você imitando um personagem famoso do Brasil e as pessoas te olhando com uma cara estranha de quem não consegue achar graça, porque aquilo não faz sentido pra elas, ou seja você sentindo falta de brigadeiro (que quase todo mundo no seu país adora) mas que você faz, no seu novo país, e todo mundo acha aquilo estranho e não quer comer. Como você se sentiria?
5) Paçoca, Bananada, Maracujá, Feijão Preto, Leite Condensado, Guaraná, Açaí, Aipim (ou Mandioca/Macaxeira), Cajú, que agora você só vai comer em ocasiões especiais e em muito menos quantidade, porque ou não tem onde você mora, ou são muitos caros porque só vendem em lojas especializadas em produtos importados... Tudo bem pra você?
6) Você que teve sempre amigos homens ou mulheres, sempre riam juntos, saíam juntos, conversavam por horas, brincavam com o maior carinho, de repente se você tendo que mudar esses hábitos em relação aos do sexo masculino. Você agora fala menos com eles, ou não fala. Ou ainda que continue falando, já não pode abraçar ou ficar muito próxima fisicamente (não disse, AGARRAR O AMIGO, disse, a proximidade normal e calorosa que estamos acostumados, dentro do limite do respeito), porque o seu amor, simplesmente por uma diferença cultural, não consegue entender absolutamente o porque daquilo e tem muitas e muitas brigas com você por causa desse assunto.
7) Se você tem aquele vestido favorito, aquela blusa de presente que ganhou de uma grande amiga, ou aquele short que te acompanha por váááários verões, largaria de mão, facilmente e nunca mais os usaria porque seu namorado pede pra você não usar mais? ( E mais uma vez, não disse, MICRO SHORT e Decotão, ok? To dizendo as vezes de um vestido, que todo mundo sempre considerou "normal", mas estar há alguns dedos acima do seu joelho e ser considerado, curto demais, por exemplo).
Eu poderia continuar infinitamente nesta lista.
Quem tem a razão? Todo mundo tem. Você ou o seu amor.
O que é o "normal", como é no Brasil ou na Turquia? Ambos são "normais" (entre aspas, porque normal varia MUITO de um ponto de vista, não é verdade?)
O que é melhor? Não existe melhor, só existe aquilo que somos acostumados. Aquilos que os pais, dos pais, dos pais, dos pais, dos pais, dos nossos pais foram ensinados a fazer e que estão, sem nem entendermos como, correndo nas nossas veias.
Quem vive um relacionamento com um turco na prática, ou pensa em viver, em algum momento pode sentir ou se questionar algumas dessas - ou outras - questões. Quem está de longe e ainda não sentiu isso na pele, pode achar tudo um bando de futilidades e coisas muito pequenas se compararmos ao amor do nosso companheiro. Mas no dia-a-dia, na luta da vida real, tudo isso junto pode SIM fazer toda a diferença na nossa vida. E algumas dessas pessoas, depois que já estão lá, e a coisa tomou proporções maiores, é que finalmente conseguem entender que namorar ou se casar com um estrangeiro, são é só bacana e incrível de se contar pros amigos e publicar no Facebook. Que mudar de país e começar tudo do zero, não é só um conto de fadas onde tudo é mágico sempre, porque afinal, você está no exterior e blá blá blá.
Quem pensa só nisso ainda não está de olhos abertos.
Um casamento com alguém de outro país pode sim ser incrível - tenho muitas histórias assim pra contar. Agradeço MUITO a Deus, por ter conhecido o Emre, porque não consigo mais imaginar minha vida com mais ninguém além dele. Isso depois de muuuita espera, depois de muita briga, depois de ter ouvido coisas que não gostei, depois de ter dito coisas que me arrependi, depois de ver ele careca, depois de ele ter me visto descabelada e desarrumada, depois de ter visto ele pagando mico, depois de ele ter visto meus fracassos, depois de eu perceber que tem coisas que nunca vou concordar com ele, depois de ele saber do meu passado...
Depois de tudo isso, ainda assim, vi que hoje quando ele saiu do quartel e foi na LanHouse pra me ver, olhávamos para um para o outro com o maior sorriso do mundo, de quem sente saudade de verdade, de que ama o outro e ama estar com o outro.
A fase da perfeição vai acabar e isso é normal, é importante até pra que o relacionamento cresça.
Então à vocês, minhas queridas que passam por aqui pra dividir experiências, o que eu tenho pra dizer hoje é: saiba que uma conversa inocente de MSN com alguém novo, pode SIM mudar toda a sua história para sempre. Podendo ter um "final" triste ou muito feliz (entre aspas de novo, porque acho que a nossa história sempre tem continuação e não só um final). Então, estejam preparadas, estejam conscientes, porque a vida tem todo o tipo de história. Não é somente falar "askim" pra cá, ou "seni seviyorum" pra lá. A vida é, sem sombra de dúvida, muito mais complexa do que palavras bonitas.
Se você tem total consciência disso, se tem os olhos bem abertos e está disposta a abrir mão de muita coisa que antes era IMPRESCINDÍVEL pra você e tem muito, mas MUITO amor no coração por aquela pessoa, eu digo: toda a sorte do mundo pra você, que você seja mais feliz do que minhas palavras estejam te desejando! Mas se ainda nunca parou pra pensar nisso, se ainda não refletiu nas consequências e acha que está tudo perfeito, desconfie e pense outra vez.
Nem você, nem eu, queremos ser pessoas que mudaram toda a vida por algo que não existia, ou até mesmo que não estávamos verdadeiramente dispostas a viver (por simplesmente não temos pensado melhor antes, ou discutido afundo este assunto antes - e quando eu digo afundo não é só perguntar onde vão morar no futuro, mas é saber de tudo mesmo, expor ideias, opiniões, dividir sonhos, questionar situações complicadas, indagar questões financeiras e sobre filhos, ser sincero sobre a sua religião e a do outros, etc).
Esse post é um desabafo meu, que apesar de muito grata a Deus e extremamente feliz por tudo o que tem acontecido, quis expressar que essa menina aqui às vezes também chora de saudade de casa, que tem sentido o peso da nova adaptação - apesar do incrível apoio e benção que tenho recebido -, e que como outro ser humano qualquer, algumas vezes para ese pergunta "Meu Deus do céu, quê que eu tô fazendo aqui?" rs.
Esse post é também um alerta pra todo mundo que tá começando um relacionamento assim. É claro que é até compreensível a gente cair na besteira de mergulhar no mundo cor-de-rosa do amor, sem conseguir ter a real dimensão que a sua história de vida pode tomar no futuro. Afinal como vamos saber que por causa de um relacionamento que começou em simples trocas de primeiras palavras com aquele desconhecido, a sua vida irá vira de ponta cabeça? Mas eu encorajo que todas tenham muito pé no chão a cada passo e que não se permitam iludir nem pelo outro, e especialmente por si mesmas - porque sim, às vezes somos as maiores responsáveis pelos nossos próprios enganos e arrependimentos.
Tem um post MUITO bacana da Dani, do blog Diário da Dani, também sobre relacionamento intercultural, que vale muito a pena ler,
é só clicar aqui.
Se eu falei alguma besteira, já peço desculpas adiantadas, mas espero que sirva de alguma coisa.
Beijocas, minhas flores queridas. Fiquem em paaaaz :)