Eu tenho uma teoria sobre relacionamentos à distância.
Para construir essa teoria dentro da minha cabeça, tenho 3 fortes aliados:
- meu grande poder de observação do comportamento do ser humano (com uma dose de "sexto-sentido", "sensibilidade" ou o que quer que você queira chamar)
- fazer comunicação social, e estudar matérias como sociologia, teoria da comunicação, comunicação e novas tecnologias, mídias digitais, estudos contemporâneos da comunicação, comunicação comunitária... (minhas matérias favoritas, e geralmente de maior nota)
- ter uma mãe que lê muito, que trabalha com a cura do trauma, aconselha pessoas, entender horrores de psicologia, é professora... com isso acabo sendo aluna vitalícia e vendo, com mais clareza, muitas coisas sobre o ser humano.
Lembro uma vez na sala de aula, a professora falando das multidões de solitários. As configurações de famílias estão se tornando as mais diversas possíveis. As pessoas andam mais centradas em si, e não na unidade familiar. Cada membro de uma família, almoça na sua respectiva empresa, distante dos outros membros. Mas se existe a chance de todos estarem em casa, ainda assim, um almoça no quarto, outro na sala, outro na cozinha... ou até mesmo todos na cozinha, mas em horários diferentes.
As pessoas se isolam do círculo familiar, e se aproximam cada vez mais do círculo virtual.
Claro que não é a maioria, mas meu avô, quase nos seus 70 anos, fica horas e mais horas dentro do quarto, com a cara no computador. Antes era a cara na TV. Mas hoje ele vê resultados da mega-sena, vê as casas de parentes e amigos pelo Google Maps, adiciona antigos colegas do Corpo de Bombeiros no Facebook e adiciona fotos das pinturas que faz, nos albums do seu perfil.
Os computadores têm se tornado os melhores amigos, guias e professores de quase todos nós. Ao acordar, ao por os pés em casa, a PRIMEIRA coisa que faço é ir para o computador. Mas a minha geração de amigos comunicadores e modernetes parece estar plugado diretamente nos seus iPhones e Blackberry's.
Não vou ficar dando aula aqui sobre Redes Sociais.
Mas o que acontece, é que mudamos o foco da nossa vida para o virtual. Viva a era da comunicação e internet!E viva mesmo. Mas o que acontece, é que a partir daí nos isolamos um poucos mais dos amigos de carne e osso, e começamos a migrar para as amizades virtuais. E ter um amigo virtual, nos dias de hoje, é muito mais fácil e prático.
Contar problemas, segredos, desabafar, pedir conselhos... alguém, que não necessariamente, pode ver o seu rosto pode ser um alivio e tanto. As pessoas perdem um pouco mais do pudor e quebram a barreira da vergonha e conseguem se abrir mais, conversar mais. É até engraçado, porque muitos daqueles mais populares online, muitas das vezes são os mais calados, mal-humorados e até briguentos com a família no offline. Não é regra, mas o povo da faixa etária 12-17 anos tá bem assim mesmo. Eu já fui assim, aliás.
2 da manhã, sua família está dormindo. Está muito tarde para telefonar para um amigo. Você abre a telinha do computador, e está lá, alguém, uma outra pessoa online, disponível pra você dividir algo do seu dia.
Mas é claro que as pessoas vão se relacionar mais e mais profundamente virtualmente.
Não do mesmo jeito, não pelo mesmo motivo exatamente, não sob as mesmas circunstâncias.
Mas definitivamente todos têm algo em comum: o novo sentimento de se sentir próximo de alguém do outro lado do mundo. Especialmente porque pessoas virtuais, estão sempre ali quando precisamos. Mas também podem desaparecer se essa for nossa vontade. Apenas um clique e você pode deixar para falar com o amigo, só na semana que vem. As vezes, nunca mais.
Quem está longe tem menos defeitos. Até o seu amigo, não tem tantos defeitos como o seu irmão.
Pois experimente morar com o seu amigo ao invés do seu irmão. Você verá com clareza os defeitos de quem está mais perto de você, e verá com muito mais frequência o erro daquela pessoa. De repente parece que o jogo inverteu, e seu irmão nem era tão irritante assim.
Será que as características dessas pessoas mudaram? Mas é claro que não. Foi o seu ponto de vista que mudou. E com a memória curta que nós temos, sendo impulssionados pela saudade, passamos ver o que era ruim, como algo maravilhoso. É assim que aquela história da 'grama do outro lado é sempre mais verde' se perpetua. Da nossa incapacidade de nos manter conscientes sobre a imagem de alguém. Com a mesma força que amamos, também odiamos. Com a mesma força que criticamos, no dia seguinte, estamos elogiando.
Acho isso até bem positivo, se for pra mudar o conceito ruim que você tinha de alguém. Não acho falsidade não gostar muito de uma pessoa, e dentro de algum tempo se tornar amigo. Acho isso bonito, porque afinal, muitas vezes nos enganamos sobre diversas pessoas. No meu segundo período de faculdade, não gostei muito de uma amiga em comum. E durante um bom tempo não consegui me aproximar ou ver vê-la com outros olhos. Porém, no último ano, surpreendentemente, ela se tornou uma das pessoas que mais me deu a mão, quando passei por um momento terrível. Graças a Deus, eu estava errada. Fico feliz de ter tido a chance de recomeçar aquela história.
Mas o que não vale é mudar essa opinião a respeito de alguém, de acordo com a proximidade (ou distância) que ela possa estar. E taí, o ponto que eu queria chegar, sobre os relacionamentos a distância.
Li no Facebook de uma amiga hoje sobre a culpa que temos a nos relacionar com alguém virtualmente. Na internet, as pessoas mentem, melhoram, aumentam, escondem das informações mais bobas, até aquelas mais graves e que precisam ser ditas. E por causa dessas informações, muitas decepções acontecem, e inúmeros corações são partidos. Isso não é culpa de ninguém, senão de quem mentiu, ou não foi transparente como deveria ter sido. Tem que ser honesto.
Mas quando o outro é honesto, e não conseguimos ver a verdade porque projetamos aquela imagem na nossa cabeça, a culpa e única e exclusivamente nossa. Se alguém te diz por exemplo que não quer um compromisso sério no momento, não vá na sua cabeça dizer "ele diz isso agora, mas deve me amar sim, eu sinto isso". Se você vê indícios e provas claras de que as coisas podem não ser como parecem ser, dê um pouco de crédito a si mesma, e honre o cérebro que você tem.
Não é pra ser ALOKA desconfiada de tudo e de todos não. Simplesmente veja com olhos abertos. Não é pra 'ver de olhos fechados', nem botar lente de aumento pra ver o que não existe. É para, pura e simplesmente, ver. Só isso, fácil assim.
TODAS as mulheres que eu conheço e me falaram de seus namorados virtuais, me disseram que eles eram diferentes de todos os outros homens, que eram especiais, carinhosos, românticos, bons rapazes. TO-DAS. Não é possível que todos eles sejam mesmo príncipes encantados. Será que tem uma tecla no computador, que quando um homem senta lá, e se comunica com uma outra mulher, transforma ele de sapo, em príncipe?
Claro que você deve e pode se encantar quando está apaixonada, é direito seu. Você merece sentir isso.
Mas uma coisa que eu quero atentar é: cuidado! Se você empurra alguém pra dentro daquele ideal de perfeição que você tanto procura, mesmo sem a pessoa estar 100% dentro daquelas características, você vai sofrer.
Vai sofrer e vai fazer o outro sofrer também. Porque se você coloca em alguém o título de perfeito (e ninguém o é),e aquela pessoa erra, imagina a dor e a decepção que você vai sentir! É muito duro quando nossos olhos brilham por alguém, e aquela pessoa cai lá de cima do pedestal. É decepcionante e difícil para os dois lados.
Confesso que no começo do meu relacionamento com o Emre, eu era bem assim. Não via absolutamente NENHUM defeito naquela doce criatura. E isso tá errado. Vamos imaginar que eu por exemplo, logo em seguida decidisse ir pra Turquia e me casar logo de cara (nada errado em casar de cara, conheço uma história especial assim, cada caso é um caso). Eu sei que teríamos problemas. Não que eu não vá ter problemas daqui há alguns anos, porque né, eu sou humana e QUALQUER casal tem suas briguinhas, suas crises, seus problemas. Tem nada de errado nisso aí, porque são 2 cabeças pensantes e distintas. Fora toda aquela história de diferença cultural, religiosa, de nacionalidade e mil coisas. Com um casal do mesmo bairro já é assim, ninguém vai me convencer que num casal a distância, seria diferente.
Com os dias que ficamos juntos, tanto aqui no Brasil, como lá na Turquia, pude ver o verdadeiro Emre. E ele pôde ver a verdadeira Jessica. A irritadinha, que não é prendada, e preguiçosa, a atrasilda... E eu também vi a outra parte do Emre, que a webcam não deixa ver. Tivemos nossas briguinhas, pedimos desculpas, nos acertamos (e continuamos a fazer nossos ajustes) e olhe que lindo: nos amamos do mesmo jeito.
Claro que não somos o casal supremo da sabedoria, nem somos o modelo perfeito pra ninguém. Mas finalmente estou vivendo algo na minha vida, que já deveria ter aprendido a tempos. Mas paciência! Não tinha conseguido aprender antes, e fico feliz que esteja conseguindo aprender de coração para colocar isso em prática agora.
Ele continua sendo o meu príncipe encantado. Agora não estou cega, fiz meus pedidos em relação à coisas que ele fez que me deixaram triste ou poderiam ser melhoradas. Se brigamos, ficamos o quê... 30 minutos, 1 hora irritados. Mas todo o resto do tempo, ele continua sendo meu príncipe, o homem com quero me casar, que quero que seja o pai dos meus filhos, o homem que quero dividir minha vida, o homem que quero lutar e construir meu futuro do lado. Mas agora como o vejo, e como ele me vê é muito mais justo. Porque posso ser eu mesma (claro que o tempo todo tentando ser melhor e me desculpando pelos erros que venha a cometer), mas com a certeza de que ele está tomando um grande passo na vida, conscientemente. Ele não vai noivar comigo no ano que vem (se Deus quiser!), por uma fantasia que ele criou, ou por causa de uma personagem que ele criou. Isso vai acontecer, porque ele ME ama. Eu mesma, desse jeito que eu sou. E mesmo com tudo de errado, ainda assim ele me quer. Tem como não se sentir maravilhosamente feliz?
Quanto a mim, sei que estou tomando uma decisão sensata, com muita dose de sonho (porque uma história dessa que atravessa o oceano, tem mesmo que ser especial :), mas sem projetar ninguém, sem imaginar nada, sem ser enganada, sem estar iludida. É uma decisão minha, que escolhi de verdade, com todo o meu coração. O medo vêm, mas depois de desembaralhar o real do ideal, vejo que a realidade dele, é mesmo tuda aquilo que eu sempre idealizei pra mim. E não o ideal que montei, se despedaçou quando o real dele finalmente apareceu.
Acho que isso é amor. :)
ATENÇÃO A TODOS!
Há 6 anos